Em Londres, como Diretor de Marketing Global do Maybourne Hotel Group (antigo The Savoy Group), que compreende alguns dos mais luxuosos hotéis do continente europeu, como Claridge’s, The Berkeley, The Connaught e The Savoy, além do tradicional Savoy Theatre em Londres, o mineiro Antonio Mazzafera lidou diretamente com um público exigente em nível máximo. Por esses lugares, se hospedavam Bono Vox, Madonna e Bill Gates, dentre tantas outras personalidades. Com isso, sua bagagem profissional lhe transformou em um dos maiores nomes do turismo do luxo do mundo. E por trás disso tudo, é claro, existe um homem estudioso e disciplinado, formado em administração e pós-graduado em Harvard, na Inglaterra, com experiência de moradia na Europa e nos Estados Unidos, por mais de 15 anos, atuando na área de hotelaria. “Sou apaixonado por cultura, história e arte”, nos diz falando pausadamente com aquele sorriso de quem está realizado com tudo o que tem acontecido.
No Brasil, de volta desde 2012, Mazzafera fundou a Fera Investimentos, com o objetivo de construir negócios lucrativos e duradouros, que beneficiem a comunidade a partir do resgate e desenvolvimento dos locais onde atua. E por sorte nossa, o primeiro negócio da Fera foi a compra do tradicional e histórico Palace Hotel, dando origem à Fera Hotéis. “O foco do negócio foi criar uma rede de hotéis boutique que oferecesse alto padrão de serviço a preços acessíveis, numa fiel tradução da descontração e hospitalidade brasileira”, defende o empresário, que vai além e garante que investimentos rentáveis podem surgir de ações que promovam não apenas o lucro, mas também a cultura, a arte e a história dos locais onde se encontram.
Vale relembrar que o Palace Hotel, localizado na icônica e antiga Rua Chile, foi inaugurado em 1934 e virou referência de diversão e luxo em Salvador até a década de 1970, hospedando em seu auge políticos e celebridades nacionais e internacionais, como Orson Welles, Pablo Neruda e Carmen Miranda – que em sua biografia tem registrada sua passagem pelo local. E por falar em literatura, o cassino do antigo hotel também foi citado na obra “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, de Jorge Amado.
Tantos anos depois, o hotel acaba de ser revitalizado em uma reforma geral com a assinatura do premiado arquiteto dinamarquês Adam Kurdahl, que modernizou o interior do local – que agora conta com spa, academia e uma deslumbrante piscina na cobertura com vista para a Baía de Todos os Santos, que tem 25 metros e borda infinita. O prédio de 6,1 mil metros de área construída, com 10 andares e 81 quartos divididos em oito pavimentos foi inspirado no Flatiron Building, de Nova York, com estilo Art Déco. E pasmem! Sua fachada tem mais de 600 janelas. O espaço é fonte inesgotável de admiração para quem ama arte, cultura e patrimônio histórico.
Sobre sua história com o prédio, Antonio Mazzafera nos contou que em uma visita a Salvador em 2011, se apaixonou pela construção. “Vi grande potencial de um retrofit do imóvel para fazer um hotel sofisticado, de vanguarda, mas tinha receio por conta da região, que se encontrava muito degradada. Após conhecer melhor a história do Palace e da Rua Chile, eu decidi prosseguir com o projeto e tentar contribuir com a revitalização desta área na cidade”, diz. Com o tempo, tudo foi dando certo e a Fera adquiriu outros imóveis na região, que resultaram em 123 negociações imobiliárias e compra de 16 edifícios.
E como nem tudo são flores, ele também relata sobre as dificuldades encontradas no caminho. “No Brasil a burocracia é uma grande barreira para o empreendedor. São centenas de licenças, certidões, projetos e atestados para se fazer algo, que por muitas vezes fazem o empreendedor desistir no meio do caminho. Quando se trata de Centro Histórico tombado, a dificuldade é ainda maior. Tudo se complica. É necessário, portanto, ter grande força de vontade e lutar muito para conseguirmos avançar”, assume Mazzafera, que diz também confiar nos governos para a melhoria do Centro Histórico. “Para o soteropolitano voltar a frequentar a Rua Chile, é necessário um trabalho mais focado do poder público para que as pessoas se sintam seguras e confortáveis naquela área, para que se sintam atraídas a passear por ali novamente. A maioria de meus amigos baianos foi contra a ideia do hotel ali, pois não viam potencial de melhoria para aquela região, que parece esquecida. Eu ainda confio nos Governos Estadual e Municipal para melhorar a iluminação, limpeza, segurança, pavimentação e ordem pública, criando um ambiente propício a negócios e que atraia outros empreendedores para a recuperação da região”.“Vi grande potencial de um retrofit do imóvel para fazer um hotel sofisticado, de vanguarda, mas tinha receio por conta da região, que se encontrava muito degradada”
“No Brasil a burocracia é uma grande barreira para o empreendedor, que por muitas vezes fazem o empreendedor desistir no meio do caminho”.
Agora, o hotel foi reaberto, e além de atrair turistas de todo o mundo, promete também reunir baianos descolados e interessantes, pois além de todos os quartos, seu térreo conta com o restaurante “O Adamastor”, com capacidade para 120 pessoas. O nome é uma homenagem à loja de artigos masculinos mais sofisticada da antiga Rua Chile, de mesmo nome de seu proprietário Adamastor, pai do cineasta Glauber Rocha. Além disso, outro hotspot é o Fera Lounge, localizado na cobertura do prédio, com vista para a mágica e brilhante Baía de Todos os Santos. “A ideia do Fera Palace, apesar de ser hotel, é atender ao público baiano em primeiro lugar, com restaurantes e bares descolados e informais, com preço acessível. Também iremos oferecer salões para festas e eventos”, enfatiza o empresário.
“A ideia do Fera Palace, apesar de ser hotel, é atender ao público baiano em primeiro lugar, com restaurantes e bares descolados e informais”
Sobre a experiencia com a abertura, depois de todo o processo de revitalização e reforma, Antonio Mazzafera diz que tem trabalhado em modelo soft opening, aos poucos. “Neste período, terminamos os detalhes da obra e treinamos nossos funcionários. Até o final de abril estaremos em pleno funcionamento”. Diz também que decidiu desde o início contratar todo o quadro em Salvador, para incentivar a população local. “100% de nosso quadro de colaboradores são moradores de Salvador, dentre os quais há baianos e brasileiros que adotaram a cidade. É um quadro jovem, pois queremos que seja esse o clima do hotel: algo jovem e descontraído. Nós não somos um produto de luxo, mas sim algo diferenciado, com serviço jovial e amigável. É este o DNA da Fera Hotéis”, diz como quem só estivesse começando. E na verdade, está!
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