Lama da tragédia criminosa de Brumadinho, cinzas de queimadas no cerrado, na Amazônia, na Mata Atlântica e no Pantanal e óleo que atingiu as praias do nordeste são elementos que Mundano utiliza nas obras da Semana de Arte Mundana. Mais do que um artista, um artivista, ele engloba esses resíduos às obras com o intuito de provocar a reflexão sobre questões socioambientais e a função da arte. O título da exposição, em cartaz entre os dias 12 de fevereiro e 26 de março, na galeria Kogan Amaro, tem como referência o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922.
O ambiente expositivo é transformado em um curral, com cercas de madeira, uma porteira aberta e um piso de grama sintética simulando um pasto, que recebe telas, instalações e esculturas. Enivo e Denilson Baniwa são os responsáveis pela curadoria e a poeta Mel Duarte fez a seleção das poesias sonoras, apresentadas em som ambiente da mostra, inclusive uma escrita por ela mesma. É possível conferir cerca de 50 obras que vão além do conceito estético e apontam para os atuais desafios emergenciais climáticos no planeta.
“O que proponho nessa exposição artivista, no ano em que comemoramos os 200 anos da independência do Brasil, num contexto de retrocesso socioambiental, de negacionismos descomunais, de absurdos diários que evidenciam nosso racismo estrutural, e tantos outros inumeráveis desafios… é uma ruptura. Uma ruptura desse modernismo contemporâneo totalmente descolado da realidade e dos reais desafios do Brasil e do mundo”, reflete Mundano. “Se quisermos continuar a sobreviver nesse planeta, vamos precisar de todas as ferramentas para uma grande mudança sistêmica. E a arte, em suas diversas linguagens, sem dúvida, é uma das mais importantes delas. Basta de modernismo e viva o artivismo!”, conclui.
Uma das obras de destaque é o convite para a abertura da mostra. Mundano se apropria da estética do icônico cartaz da Semana de Arte Moderna, de Di Cavalcanti, e o ressignifica. Ele propõe um questionamento sobre o momento atual da arte e do mundo em que vivemos: troca o enunciado para Semana de Arte Mundana e insere a imagem do brotinho que cresceu e acabou cortado como muitas árvores, dando a ideia de ruptura, reforçando a ideia de arte engajada, tão necessária aos dias de hoje.
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