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São 09h da manhã de uma sexta-feira. Pontualíssima e cheia de energia, Rosina Bahia está pronta para o bate-papo com a revista do Núcleo de Decoração da Bahia. “Você quer perguntar ou prefere que eu vá falando? Adoro falar, mas preciso de alguém que me limite. Ou então só termino amanhã”, diz aos risos, deixando todo o contexto da entrevista muito à vontade. Na noite anterior, ela havia estado presente no show beneficente que a cantora Ivete Sangalo havia realizado no Teatro Castro Alves, e que teria sua renda revertida para o Hospital Martagão Gesteira.

Sediado em Salvador, o Hospital Martagão Gesteira é uma das mais importantes instituições filantrópicas do Brasil, que atende exclusivamente a crianças e adolescentes, da Bahia, e muitas vezes vindas também de diversas capitais do país. Com uma história que mescla lutas, vitórias, fechamentos, alegrias e dificuldades, a entidade tem sua história confundida com a história de todos os maiores avanços da pediatria nacional. Acompanhando essa trajetória a todo instante, esteve Rosina Bahia, neta de Álvaro Bahia, o homem que sonhou e criou o hospital, e que sem nenhum tipo de vaidade, o batizou com o nome do seu amigo e incentivador Joaquim Martagão Gesteira.

Rosina nos conta a história da Liga Álvaro Bahia Contra a Mortalidade Infantil, que se iniciou através do sonho de dois grandes médicos pediatras e amigos: Dr. Joaquim Martagão Gesteira e Dr. Álvaro Pontes Bahia, seu avô, que preocupados com o alarmante quadro de mortalidade infantil na Bahia dos anos 20, resolveram fundar uma instituição que defendesse a vida das crianças. Assim nasceu, em 1923, a Liga Bahiana Contra a Mortalidade Infantil e a partir daí inauguraram o 1º Consultório de Lactentes, o Instituto Batista Machado e a Escola de Puericultura Raymundo Pereira de Magalhães. “Nesta época, nos anos 30, a Liga em uma atitude inédita criou o primeiro Banco de Leite Materno do Brasil. E como resultado de todas estas ações iniciais, houve a redução da mortalidade infantil na Bahia de 40% para 14%”, lembra.

“Nos anos 30, a Liga em uma atitude inédita criou o primeiro Banco de Leite Materno do Brasil. A redução da mortalidade infantil na Bahia de 40% para 14%”

Percebendo a necessidade de maior e melhor estrutura, além de qualidade e quantidade em serviços e atendimentos, Dr. Álvaro Bahia idealizou a construção de um Hospital, que fosse destinado ao cuidado com crianças e adolescentes. Sua pedra fundamental foi lançada em 1946, quando resolveu homenagear seu amigo e parceiro idealista, Dr. Martagão Gesteira. “Enquanto as coisas iam acontecendo vagarosamente com a construção do hospital, por falta de recursos, o trabalho da Liga se mantinha firme e forte. O presidente Juscelino Kubitschek, na época, que tinha uma plataforma de governo muito ligada aos jovens, ao tomar conhecimento do trabalho do meu avô e do Dr. Martagão na Bahia, pediu que eles fossem ao Rio de Janeiro, capital do país, para que servissem de modelo de política na saúde brasileira”, explica Rosina.

O processo de construção do Hospital Martagão Gesteira foi longo e demorado e depois de 18 anos, em 1964, com a mobilização da classe médica, da sociedade baiana e das autoridades de saúde, Dr. Álvaro Bahia falece, sem ver seu hospital inaugurado, feito que acontece somente em 1965, devidamente equipado e com a sua equipe médica formada, funcionando no bairro do Tororó. Por um consenso dos Diretores da instituição, a Liga Bahiana Contra a Mortalidade Infantil, entidade mantenedora do Hospital, passou a se chamar Liga Álvaro Bahia Contra a Mortalidade Infantil. “Eu tinha 17 anos e testemunhei meu avô, antes de morrer, pedir a toda família que levássemos aquele sonho dele a diante e que não desistíssemos jamais. A partir de então, comecei a participar de todo o processo e viver para o Martagão Gesteira”, conta emocionada.

“Eu tinha 17 anos e testemunhei meu avô, antes de morrer, pedir a toda família que levássemos aquele sonho dele a diante e que não desistíssemos jamais”

Daí em diante, ela trilhou o caminho que a levou a ser eleita em 1996 como Presidente da Diretoria Executiva da Liga Álvaro Bahia. “São muitas as histórias pata contar. Vi o hospital fechar as portas por três vezes. Neste período fomos ajudados por diversos governadores e prefeitos”. De 2009 até os tempos atuais, o Hospital se dedicou a contar com ações inovadoras e de excelência, dando cada, vez mais ênfase ao seu crescimento e serviço de excelência.

“Falo com tanta convicção e paixão, que as pessoas têm certeza de que sou médica. Mas não sou. Sempre tive envolvimento com trabalho social, tanto na Igreja, quanto nas escolas, pois fui bibliotecária e professora. Acontece que como todo este envolvimento, me tornei conhecedora de tudo que envolve o trabalho do hospital. E também implementei serviços complementares, como a Biblioteca Virtual de Saúde, as Campanhas Fixas de Colaboração, o Centro de Convivência e a Capela”, conta. Desde 2014, Rosina Bahia se afastou da presidência, mas se tornou a grande representante institucional do Hospital Martagão Gesteira e da Liga Álvaro Bahia.

“Falo com tanta convicção e paixão, que as pessoas têm certeza de que sou médica. Não sou, mas sempre tive envolvimento com trabalho social”

Em 2007 e 2016, respectivamente, ela foi agraciada com as Comendas Maria Quitéria e Thomé de Souza, por conta dos seus relevantes serviços prestados à população. As honrarias são as mais importantes da Câmara Municipal de Salvador. Sem vaidades, ela afirma que “Os louros e as medalhas, não são para mim. São para a instituição, e para todas as pessoas que fazem parte dela. Eu apenas represento isso”.

 

 

Escrito por Tamyr Mota